terça-feira, outubro 31, 2006
Philip K. Dick por Richard Linklater
Sexta-feira, 27 - A SCANNER DARKLY
Depois de realizar o experimento de animação digital sobre filme real em Waking Life (2001), Richard Linklater repete a técnica e vai além com o novo A Scanner Darkly. Depois de ser popularizado em filmes como Blade Runner, Total Recall e Minority Report, o escritor e visionário Philip K. Dick (1928-1982) encontrou em Linklater a sua mais perfeita tradução para as telas de cinema com a adaptação de seu conto de 1973, incrivelmente sintonizado com o mundo estranho em que vivemos atualmente. A Scanner Darkly é ambientado num futuro próximo, em Los Angeles, quando os EUA perderam a guerra contra as drogas. Neste cenário, um policial (Keanu Reeves) é um dos muitos agentes que cederam ao vício de uma popular substância química, que divide a personalidade dos usuários em duas. Não há exatamente uma história para acompanhar. A base da narrativa do filme, o traço mais forte da literatura de Philip K. Dick, são os estados alterados da mente, a linha tênue que separa a realidade das suas distorções, sejam por meio de drogas ou paranóia, esquizofrenia, psicose e outras patologias.
Além do desenho lindo de se ver, a técnica utilizada aqui é design e também conteúdo: com A Scanner Darkly, Linklater deixa bem claro porque escolheu essa técnica. Senti uma certa decepção da platéia jovem, antenada com o mundo virtual, que esperava algo mais 'viajado' na tela. Muito pelo contrário, Linklater tira partido da 'irrealidade' do desenho animado para causar estranhamento com uma narrativa com os dois pés fincados no cotidiano banal. Os personagens são pessoas normais, os objetos dos cenários são perfeitamente familiares com o mundo de hoje e as cenas acontecem de forma natural (já que são filmadas inicialmente com os atores reais). Cenas de sexo, caminhadas na rua, encontros de turmas em apartamentos mundanos regados a cerveja, cigarro e conversa fiada, tudo acontece sem nenhum delírio visual. O efeito é muuuito estranho, ainda por cima com a excelente trilha sonora do Radiohead e Thom Yorke dando o clima. O elenco, com freaks de Hollywood como Woody Harrelson, Winona Ryder e Robert Downey Jr., também não está em A Scanner Darkly por acaso. Como visual explicitamente futurista, temos apenas o disfarce dos policiais informantes, uma esquisita roupa mutante que altera continuamente o visual do sujeito, parecendo uma materialização literal de esquizofrenia, com rostos e roupas em constante mutação, e alguns gadgets já banalizados no mundo atual.
Depois de Dazed and Confused (lançado enfim em DVD no Brasil como Jovens, Loucos e Rebeldes), Antes do Amanhecer, Waking Life, Escola de Rock e Antes do Pôr-do-Sol, Richard Linklater firma-se como o nome mais coerente e inteligente do cinema pop americano. Junto com A Scanner Darkly, ele realizou ainda em 2006 Fast Food Nation (que também deveria estar nessa Mostra, mas ficou de fora de última hora). Ambos já estão comprados para o Brasil, mas parece que A Scanner Darkly sairá direto em DVD. Sorte tive eu de assistí-lo na tela de cinema nessa Mostra SP.
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3 comentários:
Parece q eu vou ter de apelar mesmo pra internet, acho que, se seguir o rumo dos outros filmes dele, só vai chegar o DVD beeeem depois, e em raras locadoras...
E acaba de sair em DVD no Brasil (já comprei o meu, claro) o maravilhoso DAZED AND CONFUSED, um dos primeiros e, para mim, o melhor filme de Richard Linklater. procure nas locadoras como JOVENS, LOUCOS E REBELDES.
Esperarei anciosa pelo lançamento!!!! Vi Waking Life e já estou imaginando!!!!
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