sexta-feira, novembro 12, 2010

A nostálgica magia de Sylvain Chomet


A animação O MÁGICO, de Sylvain Chomet (As Bicicletas de Belleville) traz como protagonista um atrapalho ilusionista em suas desaventuradas apresentações pela Edinburgo. Seus traços e sua personalidade remetem diretamente ao seu autor, Jacques Tati. Isso por que o roteiro do filme é baseado em um dos últimos escritos pelo mestre da comédia visual francesa e foi revisado por Chomet. Apesar da premissa prometer uma sessão divertida (e ainda o é), O MÁGICO é uma melancólica homenagem ao criador da história, incluindo aí referências diretas ao seu cinema, e uma nostalgica lembrança da da magia que perdeu espaço quando as crianças se tornaram adultas precocemente. O protagonista é relegado a se apresentar em casamentos, teatros vazios e bares, conhecendo em um desses estabelecimentos a humilde garotinha Alice, que acaba fugindo com o mágico sem seu consentimento. Consciente de seu novo papal paterno, ele se dedica a trabalhar para sustentar os dois. O desenho belíssimo e o poder emocional arrasador fazem de O MÁGICO mais um pequeno clássico de Chomet/Tati.

O MÁGICO
de Sylvain Chomet França 2010
Visto em 01/11 no Cine Livraria Cultura 1
por Filipe Marcena
Cotação: ÓTIMO

A Jornada da Vênus Hotentote


Do diretor do maravilhoso O Segredo do Grão, Abdellatif Kechice, chega o tenso e emocionante VÊNUS NEGRA, a pouco conhecida história da africana Saartjes Baartman que se tornou popular na Europa ao encarnar a Vênus Hotentote, uma versão selvagem e caricatural de si mesma e de sua raça. As mulheres Hotentote eram conhecidas pela imensa bunda e pelo 'avental Hotentote', uma prolongação dos grandes lábios da vagina. Tratada como um animal durante as apresentações, Saartjes foi contratada por Hendrick Caesar (Andre Jacobs), que interpreta seu 'domador' e a paga com roupas, comida e dinheiro, mas não com dignidade e respeito. Exibido no último Festvial de Veneza, VÊNUS NEGRA é quase um épico com suas 2h40, produção cara e efeitos visuais discretos. Trata-se de um melodrama muito bem conduzido por Kechiche e seu fotógrafo Lubomir Bakchev, que não tem medo de enquadrar os momentos mais desumanos e degradantes pelos quais Saartjes é submetida. Mas o filme pertence mesmo à estreante Yahima Torres, a Saartjes, que atua, canta, dança e encara cenas difíceis com excelência. No elenco, Olivier Gourmet, também excelente.

VÊNUS NEGRA
de Abdellatif Kechiche França 2010
Visto em 31/10 no Arteplex 1
por Filipe Marcena
Cotação: MUITO BOM

Um filme insuportável, um final catártico


Durante toda a projeção de MINHA FELICIDADE, o espectador inevitavelmente se questiona a que ou a quem diabos o título se refere. Nas mais de duas horas de duração assistimos a Gergy, um pacato caminhoneiro, sofrer constantes guinadas e interferências de terceiros em sua vida, seguindo numa inércia sem ao menos lutar contra os adventos que vêm ao seu encontro. Numa narrativa contemplativa torturante, não pela lentidão, mas pelo que se passa em suas imagens, MINHA FELICIDADE aos poucos esgota o espectador ao observar Georgy passar pelas mãos de personagens como uma jovem prostituta, um velho sem nome, ladrões de caminhão, policiais corruptos e uma inesperada nova família numa Rússia hostil e violenta. Como cinema o filme é um primor, o diretor e roteirista Sergei Loznitsa realiza pequenos milagres em cena (o corte de uma cena violenta passada no verão para outra passada no inverno no mesmo plano é genial). É o que segura a audiência até o fim do filme, onde antigos personagens retornam e, nos segundos finais, a catarse é próxima da que acontece ao fim de À Prova de Morte, de Tarantino, e Loznitsa se faz entender. Uma das surpresas da 34ª Mostra.

MINHA FELICIDADE
de Sergei Loznitsa Ucrânia 2010
Visto em 31/10 na Reserva Cultural
por Filipe Marcena
Cotação: MUITO BOM

Atores brilham em filme russo premiado


COMO TERMINEI ESTE VERÃO
é a prova viva de que a simplicidade quase sempre é a melhor opção. Dirigido pelo russo Aleksei Popogrebsky, o filme faturou o Urso de Prata de melhor ator, pela dupla de protagonistas, em Berlim este ano, e ainda levou um prêmio de contribuição cinematográfica pela soberba fotografia em RED Digital de Pavel Kostomarov. Ambos bastante merecidos, já que o filme trata basicamente das nuances do tempo e do psicológico de dois homens expostos á solidão.

O roteiro minimalista escrito pelo próprio Popogrebsky fala de dois geógrafos que trabalham numa isolada estação meteorológica num ponto desconhecido da Rússia. Um deles, Sergei, já tem anos de profissão e passa os dias quieto como se apenas esperasse o dia da morte para poder parar. O outro, Pavel, é muito jovem e parece recém saído da faculdade. Um dia, Pavel recebe uma notícia pelo rádio, e com medo das conseqüências, resolve esconder o fato de Sergei, desencadeando uma longa série de culpas e medos e é nesse ponto que o filme deixa um pouco a desejar. O terceiro ato, se mostra arrastado e aborrecido, um pouco pela incerteza do destino das personagens, um pouco por toda a falta de lógica da situação. Porém o final poético e seco traz de volta toda a sensação presente do início da projeção, e faz entender o porque do prêmio para os dois. É dos melhores filmes do ano, não tanto pelo resultado final, mas bastante pela intenção.

COMO TERMINEI ESTE VERÃO
de Aleksei Popogrebsky Rússia 2010
Visto 30/10 online
por Felipe Silva
MUITO BOM

quinta-feira, novembro 04, 2010

Encerramento Oficial da 34ª Mostra SP


Nessa quinta 04/11 temos o encerramento da 34ª Mostra SP. Aqui no blog você acompanha mais críticas que ainda publicaremos, dos filmes vistos de domingo 31/10 até aqui, considerando que a Mostra terá mais uma semana de reprises de alguns filmes. Esse ano a Mostra SP teve muitas sessões canceladas - acima da média dos últimos sete anos que acompanho a Mostra - e foi meio problemático organizar a programação diária. Por exemplo, um dia nos deslocamos para o Shopping Bourbon, que fica um pouco fora do circuito da Mostra, para só lá saber que o filme havia sido cancelado e substituído por outro que não nos interessava. Isso, numa cidade grande como São Paulo, significa uma tarde perdida, inclusive por ser quase impossível ver outro filme no horário, graças às sessões lotadas para os filmes mais disputados. Além disso, nessa era de projeção digital, tivemos sessões com projeção tosca, que mais parecia DVD com telão, no caso de CATERPILLAR e POESIA, dois filmes dos mais elogiados e concorridos. Ver a sessão de VÊNUS NEGRA, de Abdellatif Kechiche (A Esquiva, O Segredo do Grão) em projeção digital de altíssima qualidade serviu para fazer a comparação. Pior ainda foi o caso de CARLOS que, além da imagem de qualidade suspeita, foi exibido no formato errado, com a tela larga original espremida para o formato quadrado convencional. E não adiantou a reclamação de espectadores e imprensa nos intervalos. Assistir quase 6 horas de filme assim, o olho até acostuma com a 'magreza' geral dos atores, mas é imperdoável acontecer isso numa das melhores sessões dessa Mostra. Entre os filmes que ainda iremos comentar aqui, está o impressionante MINHA FELICIDADE, do ucraniano Sergei Loznitsa, uma das poucas sessões pertubadoras dessa Mostra, daquela que faz muitos espectadores abandonarem a sessão na metade, transtornados e incomodados. MINHA FELICIDADE estará na programação de longas da III Janela Internacional de Cinema do Recife, na próxima semana, a partir de 12 de novembro. Voltando à Mostra SP, entre os vários filmes cancelados de última hora está o que encerraria o evento, a comédia POTICHE de François Ozon. Para substitui-lo, a Mostra conseguiu uma cópia do aguardado A REDE SOCIAL de David Fincher, que só estreia no Brasil em dezembro. A sessão única, hoje às 20h, está concorridíssima e não sabemos ainda se conseguiremos ingressos. Vamos no final da tarde para a fila da Sala Cinemateca, nossa última chance de conseguir ingressos para essa sessão de encerramento.

Por Fernando Vasconcelos 04.11.2010

Palma de Ouro é fantasia tailandesa sobre karma


TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS, de Apichatpong Weerasethakul, é um filme misterioso. O cinema hipnótico do tailandês adentra o universo da fantasia nesse seu novo longa, vencedor da Palma de Ouro 2010. O Tio Boonmee do título é um senhor que sofre de insufuciência renal e que decide passar seus últimos dias numa casa na floresta junto com seu familiares. Durante um jantar, sua falecida mulher volta como uma fantasma, enquanto seu desaparecido filho retorna sob uma forma não-humana e amendrontadora. Durante o período, relembra suas vidas passadas e segue para o seu destino. Antes de qualquer coisa, TIO BOONMEE... é esteticamente primoroso. Apichatpong desenha imagens enigmáticas e surreais, como a priemira aparição do macaco-fantasma e a sequência com um bagre no rio. Fui tomado por uma agradável sensação de nostalgia ao assistir tais cenas, como se as figuras e lugares que permeiam o filme fizessem parte de um folclore pessoal de minha infância (ou vidas passadas?) mesmo eu nunca tendo escutado nada sobre eles, e isso é o que tornou a experiência tão fascinante. Ainda assim, senti que vários significados dessa história pareciam estar fechados a quem é mais entendido de conceitos religiosos e metafísicos do oriente. Apesar de tratar de temas como karma e a efemeridade do tempo, TIO BOONMEE... deixa a impressão de se encaixar melhor em outros contextos. Apesar de ter gostado menos que o único outro filme do Apichatpong 'Joe' Weerasethakul que assisti, o maravilhoso Síndromes e um Século, exibido na Mostra SP 2006, TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS impressionou.

TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS
de Apichatpong Weerasethakul Tailândia 2010
Visto em 30/10 no Arteplex 1
Por Filipe Marcena
Cotação: BOM

P.S. Fernando Vasconcelos: Assisti TIO BOONMEE... numa sessão lotada, começando a sessão em pé no corredor, onde conferi a estranha e inesquecível sequência do tranquilo jantar familiar com a presença da esposa morta e do filho macaco-fantasma. Depois desse início, consegui uma poltrona entre duas senhoras que já dormiam profundamente. Depois de quase 8 horas dentro do cinema (Em um Mundo Melhor e Carlos), tão tive saída: caí também no mais profundo sono e só acordei na sequência final. Uma pena, mas essas coisas acontecem em maratonas cinéfilas. Espero ter a chance de conseguir ingresso numa possível sessão reprise da semana pós-Mostra e, de fato, assistir a tão comentada Palma de Ouro em Cannes 2010.

quarta-feira, novembro 03, 2010

Eletrizante saga biográfica


Nem a absurda duração de 5 horas e meia, nem o descaso da projeção incorreta - que fez o formato largo original passar em tela estreita (como os faroestes que passam na TV com a imagem espremida) apesar de muitas reclamações durante dois rápidos intervalos - conseguiram tirar o brilho e o prazer em acompanhar a eletrizante minissérie CARLOS, do francês Olivier Assayas (Clean, Horas de Verão), um dos melhores cineastas atuais. Numa narrativa veloz que lembra O Grupo Baader-Meinhof, somos jogados logo de cara num turbilhão histórico de 1974 (que vai até 1994), a trajetória do mito terrorista Carlos, conhecido como O Chacal. Com atuação competente de Edgar Ramirez e todo um elenco internacional, o filme equilibra-se entre o registro dos fatos históricos e a intimidade pessoal (informada como ficção) do personagem, conhecido como um homem vaidoso, nascisista, mulherengo e carismático. O filme registra de forma clara e didática como o poder do indivíduo que idealizava uma revolução foi tragado pela História, no processo de globalização que diluiu a imagem romântica do terrorista, e transformou Carlos numa vítima de sua própria ambição. Quem diria que uma das grandes atrações dessa Mostra seria um filme feito para a TV?

CARLOS
de Olivier Assayas França/Alemanha 2010
Visto em 30/10 no Artplex 2
Por Fernando Vasconcelos
Cotação: ÓTIMO

Melodrama correto e previsível


Eu admiro bastante o cinema da dinamarquesa Susanne Bier, que faz melodramas poderosos que poderiam estar numa novela das oito, não fosse o intenso registro humano e verdadeiro que Susanne imprime aos personagens e situações, sempre envolvendo tragédias e perdas pessoais, como em Corações Livres, Brothers (que teve remake americano) e Depois do Casamento (indicado ao Oscar de filme estrangeiro). Mas com esse novo EM UM MUNDO MELHOR, a coisa já começa a ficar repetitiva e, portanto, sem o mesmo impacto. Sem medo da fórmula 'cinema com mensagem', o filme conta a história de duas famílias desfeitas, uma por divórcio e a outra por viuvez precoce, que se unem em torno do relacionamento de seus filhos. São dois garotos, um tímido e passivo e o outro perturbado pela morte da mãe, vítima de cancêr. A amizade entre os dois levará ao extremo deles fabricarem uma bomba caseira, para explodir o automóvel de um sujeito que agrediu o pai de um deles, um médico pacifista, que trabalha num país africano devastado pela miséria. O roteiro é bem conduzido, apesar de previsível, e os atores são muito bons, especialmente os garotinhos. Mas não dá pra aturar quando se procura emocionar o espectador com imagens de crianças africanas em câmera lenta, em sequências tão clichês que parecem anuncis publicitários de ONGs. E, por favor, alguém desliga essa trilha sonora redundante?

EM UM MUNDO MELHOR
de Susanne Bier Dinamarca 2010
Visto em 30/10 no Reserva Cultural 1
Por Fernando Vasconcelos
Cotação: REGULAR

Boneca japonesa melancólica


Depois de Seguindo em Frente, excelente filme visto ano passado na Mostra, o diretor japonês Hirokazu Kore-eda apresenta esse ano um filme completamente diferente, AIR DOLL. Inspirado num mangá, o filme é uma fantasia poética onde uma boneca inflável adquire alma. Ganhando vida quando seu dono não está em casa, ela consegue emprego numa videolocadora e apaixona-se pelo colega balconista. Mesmo sem buscar o realismo, Kore-eda atinge desconcertantes momentos de uma tristeza e melancolia cruéis, com um olho delicado para registrar a solidão das pessoas na cidade grande, tanto os que moram em kitinetes minúsculos quanto os que vivem em conjuntos residenciais de luxo gigantescos. Impressiona o trabalho corporal de Bae Doo-na, em especial nas simbólicas cenas sensuais em que ela 'sente' prazer ao ser esvaziada e enchida por uma válvula no umbigo. A trilha sonora graciosa contrasta com imagens que chegam a pertubar de tão desoladoras. Filme estranho, para público limitado, AIR DOLL é mais uma obra notável do cinema de Hirokazu Kore-eda.

AIL DOLL
de Hirokazu Kore-eda Japão 2009
Visto em 28/10 no Artplex 3
Por Fernando Vasconcelos
Cotação: BOM

Cinema que não cabe na televisão


Uma curiosidade dessa Mostra é que alguns dos melhores filmes exibidos foram feitos para a televisão. É o caso deste sóbrio e sofisticado MISTÉRIOS DE LISBOA, grandiosa adaptação de romance de Camilo Castelo Branco, dirigida pelo chileno radicado na Europa Raoul Ruiz, numa produção impecável para a TV portuguesa. O filme é um folhetim amargo sobre as desventuras do garoto Pedro da Silva, órfão em um colégio interno aos cuidados do padre Dinis, a partir do momento que encontra sua mãe e conhece a história de seu pai. Em formato de flashbacks contados pelos personagens, que vão criando pequenos filmes dentro do filme, a narrativa, apesar de lenta e complexa, nunca é cansativa nas sua 4 horas e meia de duração (na TV foi exibida em capítulos, na Mostra em duas partes). Com concepção estética cinematográfica, MISTÉRIOS DE LISBOA lembra filmes como Barry Lyndon de Kubrick ou os contos morais de Eric Rohmer ou até mesmo os filmes do português Manoel de Oliveira. E nunca se parece nem tem parentesco com telenovelas e minisséries globais. Aliás, o filme mostra como é possível fazer cinema de alta qualidade para TV. A trama atravessa o século 19, com paixões vingativas, justiceiros com duplas identidades, ciúmes e traições, numa viagem por Portugal, França, Itália e, indiretamente, o Brasil, onde um personagem faz fortuna e volta para Portugal frequentando a alta roda da sociedade. Na passagem pela França, o elenco tem a presença de nomes famosos como Lea Seydoux, Clotilde Hesme e Melvil Poupaud, mas todo o elenco português está impecável, incluindo Ricardo Pereira, conhecido de telenovelas brasileiras. Se não for exibido comercialmente no Brasil, pela longa duração, é certo que será lançado em box de DVD.

MISTÉRIOS DE LISBOA
de Raoul Ruiz Portugal 2010
Visto em 28/10 no Artplex 1
Por Fernando Vasconcelos
Cotação: MUITO BOM

segunda-feira, novembro 01, 2010

O cinema dos hermanos


Os irmãos Daniel (Fernando Moreno) e Julio (Eliú Armas) são craques do futebol. Ambos são as estrelas do time da favela onde moram com a mãe e ganham uma chance de mudar de vida ao serem convidados para um teste no melhor time da cidade. Nos violentos becos da comunidade, uma tragédia se abate sobre os dois, e os laços entre os irmãos serão postos à prova quando vingança, família e o sonho de suas vidas se chocam entre si. Contar mais sobre HERMANO, belíssimo filme venezuelano e candidato a uma vaga no Oscar de melhor filme estrangeiro, estraga o prazer de ser surpreendido. É um melodrama muitíssimo bem narrado pelo diretor Marcel Rasquin, que brinca com clichês do filme de esporte com frescor e desenvoltura. Preste atenção no final, que se baseia no arquétipo do 'jogo decisivo' para solucionar os dilemas internos dos protagonistas. Impressionante como o filme é tenso e ao mesmo tempo profundamente comovente, sem apelar para trilhas histéricas ou diálogos constragedores. Também brilhante a dupla central de atores, carismáticos e extremamente talentosos na composição de seus personagens. Os aplausos ao fim da sessão são sinal de que nós ainda ouviremos falar sobre esse filme.


HERMANO
de Marcel Rasquin Venezuela 2010
Visto 28/10 no HSBC Belas Artes 2
por Filipe Marcena
Cotação: MUITO BOM

Donas-de-casa desesperadas


Vencedor do prêmio de melhor direção no último Festival de Sundance, TRÊS QUINTAIS é uma irregular dramédia que desconstrói a família média americana, tema mais que batido no cinema independente yankee (vide Cyrus, Minhas Mães e Meus Pais e Sentimento de Culpa, todos em exibição na 34ª Mostra). Como o título já denuncia, o filme conta três histórias que ocorrem numa tarde de outono: uma dona-de-casa (Edie Falco, da série A Família Soprano) que recebe uma famosa atriz de Hollywood (Embeth Davidtz) em sua casa e se oferece para apresentar-lhe a cidade; um pai de família (Elias Koteas) que deixa esposa e filha em casa para uma viagem de negócios mas não consegue sair da cidade; e uma garotinha que acidentalmente leva consigo uma pulseira de sua mãe para a escola, enfrentando perigos ao longo do caminho ao perder o ônibus escolar. As únicas coisas que conectam as histórias são a temática e o fato de todas acontecerem na mesma cidade. Os problemas já começam no roteiro do próprio diretor Eric Mendelsohn, às vezes sagaz e bem resolvido e às vezes pobre e pouco desenvolvido. TRÊS QUINTAIS sabe criar personagens, como a aspirante a garçonete que aparece no núcleo de Elias Koteas, mas parece não saber o que fazer com eles. O elenco oscila por causa do texto, sendo Edie Falco a única que não se atropela na atuação. Lutando contra o filme, a esforçada mas falha câmera de Mendelsohn, que adota o zoom e os raios solares como estética, povoando o filme com imagens feias, irritantes e em um digital sem vida. Ao fim a impressão é a de que o autor do filme pode ter uma longa carreira escrevendo e dirigindo para séries como Desperate Housewives.

TRÊS QUINTAIS
de Eric Mendelsohn EUA 2010
Visto 28/10 no Arteplex 3
por Filipe Marcena
Cotação: REGULAR