quarta-feira, novembro 03, 2010

Cinema que não cabe na televisão


Uma curiosidade dessa Mostra é que alguns dos melhores filmes exibidos foram feitos para a televisão. É o caso deste sóbrio e sofisticado MISTÉRIOS DE LISBOA, grandiosa adaptação de romance de Camilo Castelo Branco, dirigida pelo chileno radicado na Europa Raoul Ruiz, numa produção impecável para a TV portuguesa. O filme é um folhetim amargo sobre as desventuras do garoto Pedro da Silva, órfão em um colégio interno aos cuidados do padre Dinis, a partir do momento que encontra sua mãe e conhece a história de seu pai. Em formato de flashbacks contados pelos personagens, que vão criando pequenos filmes dentro do filme, a narrativa, apesar de lenta e complexa, nunca é cansativa nas sua 4 horas e meia de duração (na TV foi exibida em capítulos, na Mostra em duas partes). Com concepção estética cinematográfica, MISTÉRIOS DE LISBOA lembra filmes como Barry Lyndon de Kubrick ou os contos morais de Eric Rohmer ou até mesmo os filmes do português Manoel de Oliveira. E nunca se parece nem tem parentesco com telenovelas e minisséries globais. Aliás, o filme mostra como é possível fazer cinema de alta qualidade para TV. A trama atravessa o século 19, com paixões vingativas, justiceiros com duplas identidades, ciúmes e traições, numa viagem por Portugal, França, Itália e, indiretamente, o Brasil, onde um personagem faz fortuna e volta para Portugal frequentando a alta roda da sociedade. Na passagem pela França, o elenco tem a presença de nomes famosos como Lea Seydoux, Clotilde Hesme e Melvil Poupaud, mas todo o elenco português está impecável, incluindo Ricardo Pereira, conhecido de telenovelas brasileiras. Se não for exibido comercialmente no Brasil, pela longa duração, é certo que será lançado em box de DVD.

MISTÉRIOS DE LISBOA
de Raoul Ruiz Portugal 2010
Visto em 28/10 no Artplex 1
Por Fernando Vasconcelos
Cotação: MUITO BOM

Nenhum comentário: