segunda-feira, outubro 23, 2006

Mais um filminho ianque independente...


Sábado, 21 - A SENSAÇÃO DE VER

Na noite de sexta, após a exibição de O Céu de Suely, não deu pra escapar da farra. Hermila Guedes, a estrela do filme, e muitos amigos pernambucanos encontraram-se no bar/boate Gloria. Resultado: 5 da manhã em casa... O sábado, assim, foi o tradicional 'ressaca e coca-cola'. Quando me animei pra ir ao cinema, já era noitinha. Só dava pra ver um filme e eu resolvi arriscar A Sensação de Ver (The Sensation of Sight), um entre vários dos filmes de diretores estreantes nessa Mostra. O filme é sobre um professor de literatura (David Strathairn, indicado ao Oscar por Boa Noite, e Boa Sorte) procurando entender o porquê do suícidio de seu filho caçula, que matou-se na sua frente. No formato de vários personagens interligados ao protagonista de forma 'inteligente', o roteiro acompanha a busca do professor pelo 'sentido da vida', com vinhetas literárias dividindo o filme em capítulos e um monte de personagens solitários, tristinhos, buscando conexão humana. O pai fica traumatizado 'fora do ar', perambulando pelas ruas vendendo volumes de velhas enciclopédias de porta em porta, o que o ligará aos vários personagens.

Diretor e roteirista estreante, Aaron J. Wiederspahn conseguiu um elenco de peso. Além de David Strathairn, temos Jane Adams (Felicidade, Garotos Incríveis) e os jovens Ian Somerhalder (LOST) e Daniel Gillies (Spider Man 2 e 3). A fita tem aquele tom 'mágico' e 'sábio' de algo que fala sobre coisas muito importantes na vida. Logo nos créditos iniciais, um longo plano estático, a autoria da trilha sonora é anunciada como 'música composta e executada por Fulano de Tal'. E essa trilha sonora será algo de muita relevância no filme inteiro... Haja paciência. É o tipo de filme oco, que confunde lentidão com profundidade, onde todo mundo fala baixinho e com o olhar perdido no horizonte. E os flashbacks serão em... oh, my god! preto&branco estiloso.

O garoto suicida aparece sempre em cena, ao lado do irmão mais velho (Ian Somerhalder), que não consegue superar o trauma. Num episódio do seriado A Sete Palmos, esse recurso visual 'poético' seria divertido, mas num filme tão 'sério' soa apenas como pretensão indie. O que impressiona mais é a falta de intimidade com cinema do diretor estreante. A Sensação de Ver (que ironia, com um título desses!) não sabe 'olhar' seus personagens. A direção de atores é teatral, tudo precisa ser falado ou descrito em narração em off, não há um momento que capte as emoções apenas no rosto ou expressão dos atores. É literatura, é teatro, e é muito pouco cinema. Há ainda citações ao A Felicidade Não Se Compra de Frank Capra (meu filme predileto?), exibido na TV e numa sequência final de epifania redundante. A Sensação de Ver foi o primeiro filme da Mostra que me deu a sensação de estar perdendo tempo quando poderia estar vendo outra fita mais interessante. Quis vaiar no final. O público aplaudiu, claro. A Mostra SP não é muito diferente do Cine PE...

Nenhum comentário: