segunda-feira, outubro 30, 2006

Quinceañera em Echo Park, Los Angeles


Quarta-feira, 25 - MEUS 15 ANOS

Alguns filmes precisam seu apresentados dentro de um contexto para entender a sua boa repercussão em festivais de cinema. Meus 15 Anos (Quinceañera, 2006) é um deles. O filme, aclamado no último festival de Sundance, com prêmio especial do júri e prêmio do público, é dirigido pela dupla Richard Glatzer e Wash Westmoreland. Filmes dirigidos por duplas são raros. Por casais, mais ainda. Por um casal homossexual, então... raro mesmo. Considere ainda que um deles, o inglês Wash Westmoreland, veio da estigmatizada indústría pornô de Los Angeles. Considere mais ainda que Westmoreland dirigiu alguns filmes pornográficos gays (ramo mais marginal do gênero) e é algo notável que ele tenha conseguido migrar tão bem para o cinema convencional, sinal de que existe talento e competência trabalhando, por falta de melhores oportunidades, no lucrativo mercado pornô norte-americano. Bem, essa informação prévia é o que Meus 15 Anos tem de mais interessante.

O filme foi rodado em esquema cooperativo independente no bairro pobre e latino de Echo Park, nos arredores de Los Angeles, com amigos emprestando locações, usando figurino pessoal e atuando em pontas coadjuvantes, e conta a história da festa de 15 anos de Magdalena (Emily Rios), filha mais nova de uma família mexicana religiosa. Grávida do namorado, apesar de não terem consumado relação sexual completa, ela permanece tecnicamente virgem mas é expulsa de casa pelo pai, dias antes da festa de debutante, a Quinceañera do título original. Magdalena vai morar com o tio-avô Tomas (Chalo González, excelente) e o primo Carlos (Jesse Garcia), rejeitado pela família por ser gay, tabu ainda forte na tradicional família mexicana. Longe do estereótipo gay afetado, Carlos é um típico rapaz latino pobre, que sobrevive trabalhando como lavador de carros e comentendo pequenos roubos, e se envolverá com um casal de gays brancos, seus vizinhos, numa subtrama dispensável. Enquanto segue como crônica do cotidiano sofrido dessa família alternativa de perdedores do 'sonho americano', Meus 15 Anos é uma fita cativante, bonita de ver. Infelizmente, rumo ao final, o roteiro se perde nos chichês novelescos mais comuns do cinemão americano, que comprometem a honestidade e naturalidade do filme. Ainda assim, Meus 15 Anos merce atenção, pelo retrato fiel dessa 'outra vida americana'. O personagem Tomas é inspirado no avô do próprio co-diretor Westmoreland, ao qual o filme é dedicado.

Nenhum comentário: