segunda-feira, outubro 30, 2006

A vida real e um golaço iraniano


terça-feira, 24 - A VIDA REAL ESTÁ EM OUTRO LUGAR

Mais um pequeno filme charmoso, desses que certamente só serão exibidos nessa Mostra e não serão lançados comercialmente no Brasil. A Vida Real Está em Outro Lugar é dirigido pelo jovem diretor franco-suiço Frédéric Choffat, já experiente em curtas e documentários. O filme inicia com um belo e fluido plano-sequência acompanhando três personagens de partida numa estação de trem em Genebra. Cada um seguirá destino distinto. Uma garota italiana está mudando-se de volta para Nápoles e fará amizada com um veterano funcionário da linha. Outra mulher, uma executiva, está a caminho da França, para uma conferência de trabalho e irá envolver-se com um estranho, sem dinheiro nem documentos, que terá sua viagem paga por ela. O terceiro personagem é um jovem que está a caminho da Alemanha, para ver seu filho recém-nascido. Ficará preso numa estação, onde conhecerá uma garota errante. Sem muitas novidades, o filme é bem dirigido, tem um bom cast de atores desconhecidos e desenvolve bem suas pequenas historinhas, que evitarão julgamentos e soluções óbvias de quem sejam essas pessoas. O jovem sem documentos nem dinheiro, por exemplo, entra e sai de cena sem muitas explicações. O filme não escapa de alguns clichês de roteiro sobre encontros casuais, mas é bonito, filmado com algum coração e honestidade, impossível falar mal de uma fita simpática como essa.

terça-feira, 24 - FORA DO JOGO

Pra última sessão dessa terça dei uma chance ao cinema iraniano, tão festejado nos anos 90 (com filmes realmente excelentes) mas fora do hype cinéfilo nos últimos anos. Escolhi Fora do Jogo (Offside, 2006), a mais recente fita de Jafar Panahi, autor de um dos primeiros sucessos do cinema iraniano no Brasil, O Balão Branco (1995), também seu primeiro filme. Dele também são O Espelho e O Círculo. O que me encanta mais no cinema feito no Irã é a capacidade espantosa que seus roteiristas e diretores têm de fazer um filme coeso, bem resolvido, a partir de pequenas histórias cotidianas que muitos acreditariam não ser suficiente nem pra um curta metragem. Fora do Jogo conta a história de seis garotas tentando entrar no estádio onde acontece o jogo que classificará o Irã para a recente Copa do Mundo 2006. No Irã, entre outras regras sociais, as mulheres são proibidas de assistir jogos de futebol nos estádios.

De forma absolutamente natural, sem forçar a barra da 'mensagem política', Panahi acompanha de forma ágil e documental (se não me engano, o filme foi rodado literalmente durante a tal partida de futebol, o que confere o seu incrível realismo) a trajétória dessas garotas que conseguem furar as catracas de entrada mas são barradas no caminho para as arquibancadas por um grupo de seguranças militares. Fora do Jogo é um exemplo de cinema instigante, inteligente, que nunca põe o discurso acima da ação, nunca segue o caminho mais esperado, que está sempre dois passos a frente do espectador e, por isso, torna-se empolgante.

Com humor nas discussões entre as garotas e os jovens seguranças, com inocência irmanada nas horas decisivas do jogo e momentos de surpreendente suspense quando um segurança procura nos banheiros do estádio uma garota fugitiva, Fora do Jogo é um filme completo, sem uma nota fora do lugar, que caminha para um final de grande beleza, quando as meninas são levadas pelos seguranças num furgão, junto com um garoto com fogos de artifício (também proibidos no estádio) e a cidade em festa pela classificação do Irã. São 90 minutos de puro cinema, o primeiro filme dessa Mostra em que eu acompanhei a salva de palmas ao final da sessão. Já comprado para o Brasil, não perca. Aliás, que vergonha que o cinema brasileiro nunca tenha feito nada em cinema sequer parecido com esse filme iraniano sobre essa nossa chamada ´paixão nacional'...

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