domingo, outubro 22, 2006
Mais um Robert Altman essencial
Sexta-feira, 20 - A ÚLTIMA NOITE
Havia prometido a mim mesmo evitar assistir aos 'medalhões' nessa Mostra e dar preferência aos filmes que provavelmente nunca entrarão em cartaz comercialmente no Brasil. Mas... como resistir a inaugurar a maratona com o novo filme do mestre Robert Altman? Não tem como. A Última Noite (A Praire Home Companion) é mais uma jóia de filme desse monstro sagrado do cinema americano. Sempre independente e autoral, o cinema de Robert Altman nunca foi pra todos os gostos e só consegue entrar no circuito devido aos maravihosos elencos que ele consegue reunir para seus filmes. A Última Noite narra, quase em tempo real, os acontecimentos de uma última noite de apresentação ao vivo de um tradicional programa de rádio, que dá o título original do filme. Como é um tremendo equívoco dizer que seu filme anterior De Corpo e Alma (The Company, 2003) era um filme sobre dança, também o será dizer que A Última Noite é sobre um programa de rádio. Um olhar menos bitolado logo verá que trata-se de um filme sobre a Vida, sobre o Tempo, como somente Robert Altman sabe filmar.
Passeando pelo auditório onde acontece o evento, a câmera de Altman desliza graciosa como que suspensa por um balão, capturando os diálogos entre inúmeros personagens nos bastidores e levando o espectador para assistir os números musicais country tão cafonas quanto honestos de duplas de cantores locais. O programa de rádio é real e, embora antiquado e ingênuo para os dias de hoje, permanece no ar numa rádio pública do estado de Minnesota. O apresentador verdadeiro, o estranho e impagável Garrison Keillor, interpreta a si mesmo no filme, brilhando num roteiro que alinhava e abraça vários personagens, interpretados belamente por atores como Meryl Streep, Kevin Kline, Woody Harrelson, John C. Reilly, Tommy Lee Jones, Lily Tomlin e até a musa teen Lindsay Lohan, como a filha de Meryl Streep, uma garota contemporânea que fica deslocada em meio a tantos personagens que parecem viver numa 'dobra temporal'.
Em tom de comédia esperta, Altman coloca em cena um anjo na pele de Virginia Madsen (pouco à vontade no papel) e brinca com o atual conservadorismo religioso ianque da era Bush. Embora seja uma trama paralela fantasiosa e simbólica que não funciona lá muito bem, não chega a comprometer o todo, que é de uma leveza encantadora, incluindo vários números que tornam o filme quase um musical, com o toque de maestria inigualável desse senhor de 81 anos que entende como poucos hoje em dia o que é essencial para se fazer bom cinema. Um dos melhores Altmans desde Short Cuts - Cenas da Vida, de 1993, remete também a uma de suas grandes obras-primas, Nashville, de 1975. Para quem gosta do cinema de Robert Altman, A Última Noite é mais um filme prazeroso e imperdível, de uma generosidade humana imensa para com os seus personagens. Acho que rende mais uma indicação nesse Oscar 2007 de melhor diretor para Altman, mesmo que ele já tenha recebido no ano passado um Oscar 'consolação' pelo conjunto de sua obra. What a shame, Hollywood...
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Um comentário:
não podia ter feito uma resenha melhor sobre esse filme lindo, Nando. well done.
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