domingo, outubro 21, 2007

Control fica devendo ao mito

Sexta 19 - CONTROL Ing/EUA, 2007

Minha primeira sessão da Mostra 2007 estava lotada de 'gente culta de preto' (muitos vestindo a camisa da banda) e teve início irritante: filmado em CinemaScope, Control começou com a lente errada, em tela quadrada com imagem espremida. Eu e mais alguns cinéfilos irados saímos e reclamamos e, com uns dez minutos de sessão, o problema estava resolvido. Cinebiografia de Ian Curtis, o vocalista e letrista de uma das bandas mais influentes doa anos 80, o Joy Division, Control não é um filme ruim de jeito nenhum, mas minha impressão ao final da sessão foi de leve decepção. A direção do estreante Anton Corbijn (famoso fotógrafo) acerta na narrativa sóbria, que não foge do tradicional sexo, drogas e rock'n'roll mas, na segunda metade de sua longa duração (2 horas), reduzindo o drama pessoal de Ian Curtis a problemas familiares, banais (crise no casamento, adultério, problemas com epilepsia), o filme não alcança beleza na dimensão existencial do jovem inglês depressivo fragilizado pela fama, que cometeu suicídio com apenas 23 anos. Claro, para fãs, o filme é uma bela homenagem, obrigatório. O destaque fica para o ator Sam Riley, numa atuação física sobrenatural (pra mim, a imagem de Ian Curtis agora passa a ser ele) e a sempre boa Samantha Morton, como a jovem esposa e mãe Deborah Curtis, autora do livro em que o filme é baseado. Filme de fotógrafo experiente, em preto e branco, nem precisa dizer que direção de arte é impecável. Acredito que Control sairá por aqui direto em DVD, tema muito específico (e em preto e branco...).

Cotação: bom, pra menos

3 comentários:

André Balaio disse...

"reduzindo o drama pessoal de Ian Curtis a problemas familiares, banais (crise no casamento, adultério, problemas com epilepsia), o filme não alcança beleza na dimensão existencial do jovem inglês depressivo fragilizado pela fama...". Acho que você viajou na maionese aí, Nando. Essa é uma visão extremamente idealizada de Ian Curtis, provavelmente por causa das suas belas letras. Não vi o filme ainda, mas tudo o que li a respeito do suicídio de Curtis foi isso mesmo: ele se matou por se sentir culpado por trair a esposa. Nada de angústia existencial...

Fernando Vasconcelos disse...

pow, se todo mundo fosse se matar por trair a esposa, não se sentir bom pai etc. haja suicídio... Ian Curtis era um artista, um poeta, e o filme (ou as memórias da viúva dele) não alcança o personagem. Não é questão de desmitificar, pois o filme acaba homenageando-o como um mito mesmo. Acho que falta algo como o que Gus van Sant fez sobre Kurt Cobain em Last Days (disponível em DVD). Mas OK, Van Sant é um artista, um poeta das imagens. Anton Corbijn pode ser um grande fotografo, mas como cineasta não vai além do medíocre, não no sentido pejoativo, mediano. OK para filme de estréia.

Expedito Paz disse...

Como fã do Joy Division, espero que Control passe por aqui pelo menos na retrospectiva/perspectiva da Fundaj. E acho que na tua resenha faltou alguma referência à Alexandra Maria Lara. Ela aparece pouco? Ou a atuação dela é indigna de nota?