
Terça 23 - PARANOID PARK EUA, 2007
O cineasta americano Gus Van Sant tem uma trajetória muito particular. Apareceu no começo dos anos 90 com os cultuados Drugstore Cowboy e My Own Private Idaho (aqui Garotos de Programa, com atuação memorável do tragicamente falecido River Phoenix). Aberta a porta para Hollywood, ele realizaria obras mais acessíveis como o razoável Gênio Indomável, o excelente To Die For - Um Sonho Sem Limites, com Nicole Kidman e Joaquin Phoenix, e o inexplicável remake do Psicose de Hitchcock. Pausa. Na virada do milênio é que Van Sant mostrou a que veio. Os filmes gêmeos Gerry (que ninguém viu) e Elefante (Palmade Ouro em Cannes 2004), seguidos de Last Days (no Brasil somente em DVD) e desse novo Paranoid Park, colocam Van Sant num patamar sem paralelo no cinema atual pela sensibilidade em olhar o adolescente do mundo contemporâneo.
A Mostra SP está chegando ao fim e, certamente, Paranoid Park foi um dos mais perfeitos e impressionantes filmes que vi na maratona. Van Sant melhora a cada filme e, se sua obra não se parece com nada do cinema comercial, este é também o mais acessível de seus filmes recentes. Baseado em livro, é sobre um garoto que mata acidentalmente um vigia noturno na área barra pesada do 'Parque Paranóia' do título, frequentado por skatistas e marginais. O jovem skatista Alex (Gabe Nevins, ótimo estreante) é seguido pela câmera durante todo o processo conflituoso que vive a partir do acidente, mostrado explicitamente numa cena que intencionalmente destoa não só do filme como de toda a filmografia de Van Sant (um homem agonizando, com o corpo partido ao meio, num trilho de trem). Há, claro, a investigação policial. Mas o filme está interessado em registrar o que se passa com o garoto, num incrível processo de intimidade com esse personagem. A relação distante com os pais, as sutis observações sobre masculinidade e sexualidade (sempre com o olhar gay de Van Sant, mas nunca tendencioso), o primeiro namoro, a dificuldade de relacionamento e adequação ao mundo à sua volta. Com o perfeito e muito pessoal uso da câmera e, em especial, o delicado design de som, que cria climas líricos, soturnos, de efeito sensorial só conseguido numa sala de cinema, temos uma pequena obra-prima de puro cinema, que sabe olhar seu personagem e não precisa de nenhum discurso falado, nem de conclusões convencionais. Uma obra em aberto para leituras infinitas. Gus Van Sant confirma-se como um dos maiores cineastas atuais. Com apenas 85 minutos de duração, Paranoid Park é literalmente um pequeno grande filme.
O cineasta americano Gus Van Sant tem uma trajetória muito particular. Apareceu no começo dos anos 90 com os cultuados Drugstore Cowboy e My Own Private Idaho (aqui Garotos de Programa, com atuação memorável do tragicamente falecido River Phoenix). Aberta a porta para Hollywood, ele realizaria obras mais acessíveis como o razoável Gênio Indomável, o excelente To Die For - Um Sonho Sem Limites, com Nicole Kidman e Joaquin Phoenix, e o inexplicável remake do Psicose de Hitchcock. Pausa. Na virada do milênio é que Van Sant mostrou a que veio. Os filmes gêmeos Gerry (que ninguém viu) e Elefante (Palmade Ouro em Cannes 2004), seguidos de Last Days (no Brasil somente em DVD) e desse novo Paranoid Park, colocam Van Sant num patamar sem paralelo no cinema atual pela sensibilidade em olhar o adolescente do mundo contemporâneo.
A Mostra SP está chegando ao fim e, certamente, Paranoid Park foi um dos mais perfeitos e impressionantes filmes que vi na maratona. Van Sant melhora a cada filme e, se sua obra não se parece com nada do cinema comercial, este é também o mais acessível de seus filmes recentes. Baseado em livro, é sobre um garoto que mata acidentalmente um vigia noturno na área barra pesada do 'Parque Paranóia' do título, frequentado por skatistas e marginais. O jovem skatista Alex (Gabe Nevins, ótimo estreante) é seguido pela câmera durante todo o processo conflituoso que vive a partir do acidente, mostrado explicitamente numa cena que intencionalmente destoa não só do filme como de toda a filmografia de Van Sant (um homem agonizando, com o corpo partido ao meio, num trilho de trem). Há, claro, a investigação policial. Mas o filme está interessado em registrar o que se passa com o garoto, num incrível processo de intimidade com esse personagem. A relação distante com os pais, as sutis observações sobre masculinidade e sexualidade (sempre com o olhar gay de Van Sant, mas nunca tendencioso), o primeiro namoro, a dificuldade de relacionamento e adequação ao mundo à sua volta. Com o perfeito e muito pessoal uso da câmera e, em especial, o delicado design de som, que cria climas líricos, soturnos, de efeito sensorial só conseguido numa sala de cinema, temos uma pequena obra-prima de puro cinema, que sabe olhar seu personagem e não precisa de nenhum discurso falado, nem de conclusões convencionais. Uma obra em aberto para leituras infinitas. Gus Van Sant confirma-se como um dos maiores cineastas atuais. Com apenas 85 minutos de duração, Paranoid Park é literalmente um pequeno grande filme.
Cotação: ótimo