Na tradição atual de tantos filmes sobre a Europa dividida, a dos pobres e a dos ricos, a francesa Claire Denis (Desejo e Obsessão) realiza um dos mais belos filmes nesse tema. Mais que um painel social, o filme privilegia o delicado relacionamento entre um pai e uma filha, imigrantes negros que moram numa região industrial da França. Lionel, o pai, é condutor de trem e a filha, Josephine, estudante. No mesmo prédio, típico condomínio para excluídos, moram uma senhora taxista, que parece ter um caso com Lionel e o jovem Noé, um ex-namorado de Josephine. Todo construído com mais silêncios do que diálogos, o filme é conduzido com elegância narrativa jazzística e é surpreendente como o ambiente e a cultura dos personagens fogem do modo como vemos imigrantes no cinema. Apesar de limitados financeiramente, eles são cultos, moram em apartamentos simples mas bem mobiliados, com estantes cheias de livros, vestem-se bem, têm sofisticado gosto musical etc. Tipo do filme com pouca ação e onde vamos entendendo aos poucos quem são os personagens, 35 DOSES DE RUM (descobrir o significado do título é um dos charmes da fita), faz referências sutis ao clássico Pai e Filha do mestre japonês Ozu e, numa sequência bela e emocionante, passada num bar onde os quatro personagens dançam ao som da magnífica canção Night Shift, de Lionel Ritchie, temos um daqueles momentos clássicos de uso de trilha sonora no cinema, que Quentin Tarantino não faria melhor. Melancólico, humano, doce mas nunca melodramático, 35 DOSES DE RUM é a primeira pérola imperdível dessa Mostra SP.
por Fernando Vasconcelos
Cotação: ÓTIMO
Visto em 24/10 no CineSesc
por Fernando Vasconcelos
Cotação: ÓTIMO
Visto em 24/10 no CineSesc
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