terça-feira, outubro 27, 2009

Ang Lee vai a Woodstock


Depois de dois excelentes melodramas aclamados mundialmente, Brokeback Mountain e Desejo e Perigo, Ang Lee retorna com um filme menos ambicioso, também um drama, mas em tom de comédia e com parentesco com sitcom televisiva. Não que isso seja um defeito, ACONTECEU EM WOODSTOCK tem os bons elementos que cativam em telesséries, meio como o Quase Famosos de Cameron Crowe. Com muitos pequenos personagens engraçados e clichés dos anos 60, como o garoto que volta chapado do Vietnã (Emile Hirsch), um travesti ex-militar (Liev Schreiber, bizarro de vestido e peruca loira), um casal viajadão em Kombi com LSD (Kelli Garner e Paul Dano), o lendário produtor cultural Michale Lang (o novato Jonathan Groff, claramente homenageando o Treat Williams do Hair de Milos Forman), o filme se concentra na 'viagem' pessoal de um rapaz judeu, Elliot Teichberg (Demetri Martin), explorando sua sexualidade enquanto participa dos três dias do Festival de Woodstock e solta-se das amarras familiares, especialmente da mãe judia tradicional (a inglesa Imelda Staunton, caricata mas divertidíssima), proprietária do hotelzinho falido que vira de cabeça pra baixo com a chegada da multidão de hippies que estiveram em Woodstock. Ang Lee acerta no registro do evento, sempre com uma distância visual e emocional adequada e sem temer cenas de nudez e consumo de drogas (algo que o caretíssimo Across the Universe evitou radicalmente) e o filme, estranhamente, vai perdendo o tom de comédia e se fecha anunciando o desencanto e o fim da inocência da geração Woodstock, com o próximo grande show dos Rolling Stones em Altmont, onde ocorreu um crime brutal na plateia, com um rapaz assassinado pelos seguranças do Hell's Angels.

Por Fernando Vasconcelos
Cotação: BOM
Visto em 26/10 no HSBC Belas Artes

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