sexta-feira, setembro 29, 2006

Frieza radical de Claude Chabrol

A COMÉDIA DO PODER

Ao longo dos últimos anos, Claude Chabrol vem exercitando um cinema muito próprio, com filmes que percorrem temas absolutamente diversos mas que compartilham um estilo muito característico de filmar do cineasta. Ao mesmo tempo em que isso serve para se constatar uma assinatura autoral muito forte do diretor, serve também para se questionar certas opções tomadas pelo cineasta anteriormente e repetidas mais uma vez nesse novo filme. A Cómedia do Poder (L´Ivresse du Pouvoir, 2006), seu último trabalho, parece preencher uma seqüência lógica construída com Negócios à Parte, A Teia de Chocolate, A Dama de Honra e A Flor do Mal, todos filmes de gênero, realizados com muita personalidade pelo autor e que atende ao raciocínio firmado acima.

Dessa vez, Chabrol realiza um “filme de tribunal”, mas a anos-luz de distância da fórmula hollywoodiana de se filmar o trabalho de uma investigação judicial. O cineasta foi buscar como mote um escândalo financeiro real, acontecido na França nos anos 90. Sua protagonista é a juíza Jeanne Charmant-Killman (Isabelle Huppert, num dos papéis mais frios de sua carreira, o que quer dizer, gélido), encarregada de investigar o trânsito de verbas envolvendo uma estatal francesa. Obcecada com o trabalho, abandona sua vida pessoal, tendo como válvula de escape apenas um sobrinho do marido, com quem compartilha uma estranha cumplicidade.

As opções tomadas por Chabrol para conduzir a investigação levam o filme a uma insipidez e frieza tremendas. Ao mesmo tempo em que acompanha as investigações, colocando a juíza como pólo íntegro num universo que se mostra cada vez mais corrupto e desonesto, o filme observa a desintegração da vida pessoal da magistrada sem nenhuma emoção. Faz isso colocando o peso do filme nas costas da protagonista absolutamente antipática, interpretada por uma Huppert extrapolando o estereotipo da francesa fria, dura e calculista, que vem sendo sua especialidade. Filmado com muita precisão, sem poupar os espectadores de detalhes mínimos das investigações e manobras financeiras levantadas no caso, A Cómedia do Poder é um filme de ritmo peculiarmente lento, que parece compartilhar da dureza e com que sua protagonista trata o trabalho e a vida, sendo esse, o seu calcanhar de Aquiles. Ter como opção retratar uma juíza impassível não parece ser um problema de partida, mas assumir a fleuma da personagem para a sua forma é sim uma questão de chegada.

Um comentário:

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom