Depois do inclassificável Intervenção Divina (2002), o diretor palestino Elia Suleiman (um Buster Keaton contemporâneo) volta mais incisivo ao retratar a questão política Palestina/Israel e emociona profundamente pelo lado humano, ao contar a sua relação com a família, especialmente com a mãe, nesse excelente filme que, iniciando com o protagonista hoje, pegando um táxi para visitar a mãe, enfrenta uma tempestade no caminho e abre uma janela para contar a história da sua família a partir de 1948, com a criação do Estado de Israel e em saltos temporais nas décadas seguintes até os dias de hoje, mostrar, em tom de farsa e alegoria, com um humor ferino, fortemente visual, como nada muda, restando a nós, humanos (palestinos, no caso), continuar a viver pelo tempo que nos resta. Com forte herança do cinema crítico visual do francês Jacques Tati, Elia Suleiman faz um cinema que não se parece com nada hoje em dia. Construído como uma coleção de vinhetas, com negação do formal plano/contraplano clássico e uso incomum de planos frontais, além de uma visão brilhante da arquitetura visual dos espaços filmados e uso de ícones da cultura ocidental de massa (na trilha sonora, por exemplo, temos uma versão eletrônica de Staying Alive, dos Bee Gees), tudo resulta em um filme pop de imagens muito marcantes, mas Suleiman vai muito além, e quando a fita volta aos dias atuais, quando se consuma a visita do protagonista à sua mãe, O QUE RESTA DO TEMPO alcança poesia e dramaticidade pungentes, de levar às lágrimas. Ignorado na premiação em Cannes 2009 (e até criticado pela sua irreverência politicamente incorreta alfinetando a política israelense), é um dos grandes filmes de 2009. Não deixe de ver.
Por Fernando Vasconcelos
Cotação: ÓTIMO
Visto em 28/10 no Reserva Cultural
Cotação: ÓTIMO
Visto em 28/10 no Reserva Cultural