domingo, novembro 01, 2009

Vitalidade de um diretor aos 100 anos

Muita expectativa para o novo filme do produtivo diretor português Manoel de Oliveira, que ainda filma com 100 anos de idade, SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA, visto sentado no chão numa sessão lotada no shopping Frei Caneca. Quase um curta metragem na sua concepção e, de fato, com apenas enxutos 63 minutos de duração, o filme é uma pequena pérola de puro cinema, de uma graciosidade e linguagem cinematográfica irretocáveis, onde Manoel de Oliveira filma com domínio completo de jogo cênico, tempo e espaço, talvez só mesmo possível por ser um cineasta que viveu toda a história do cinema, tendo nascido em 1908. Filme é adaptação de um pequeno conto moral de Eça de Queiroz, sobre um sujeito de boa índole que se apaixona pela imagem de uma linda jovem loura que mora no prédio em frente ao seu escritório. Da paixão idealizada à decepção com o mundo real, o rapaz conta a sua estória em flashbacks a uma senhora que o ouve com atenção numa viagem de trem. Alguns momentos são simplesmente encantadores, irônicos e belos como o close que a câmera dá no sapato vermelho da garota no primeiro beijo ou a maravilhosa cena final. Nada de obra-prima, mas é cinema do bom, como os jovens cineastas atuais, sedentos por câmeras mirabolantes e montagem sem significado, parecem não saber fazer. Aprendam com o mestre, pois o cinema mais difícil de fazer é aquele simples, objetivo e inspirado. Na plateia, ao final da rápida sessão, pairou no ar uma sensação imediata de decepção. Mas Manoel de Oliveira faz um cinema que é maior que as nossas pobres críticas apressadas. E segue em frente: às vésperas de completar 101 anos, esse sujeito eternamente jovem de espírito, já está finalizando seu mais novo filme, O Estranho Caso de Angélica, e eu já estou esperando pra ver.

Por Fernando Vasconcelos
Cotação: BOM
Visto em 28/10 no Unibanco Arteplex

Um comentário:

Heber Costa disse...

O Sr. de Oliveira ainda não me convenceu. Vamos ver se é desta vez.