sexta-feira, novembro 07, 2008

MOSTRA SP | Vicky Cristina Barcelona


Woody Allen, em pleno processo produtivo, chega ao seu quarto filme feito fora dos EUA, depois da 'trilogia' realizada na Inglaterra (Ponto Final, O Grande Furo e O Sonho de Cassandra). Dessa vez, ele filma na Espanha, que está no título do filme (Barcelona). Os outros dois nomes Vicky e Cristina são duas garotas norte-americanas lindas, em férias européias. Cristina é a deliciosa nova musa loira de Allen, Scarlett Johansson, e Vicky é a pouco conhecida Rebecca Hall, típico caso de mais uma atriz descoberta por Allen para o grande público. Quer dizer, nem tão grande assim. Cada vez mais, o cinema de Allen, mesmo popular, parece restrito a um pequeno número de espectadores fiéis e será sempre rotulado como 'cinema de arte', por mais populares, digestivas e até esquecíveis que sejam as novas comédias e dramas desse nova-iorquino. No caso de Vicky Cristina Barcelona, vale notar que Allen ataca com erotismocaliente, no já tão comentado beijo na boca entre Scarlett Johansson e Penelope Cruz.

Cineasta camaleônico que sempre foi (lembra da sua fase Bergman?), é possível perceber aqui a deliciosa influência do francês Eric Rohmer, no ritmo natural em que as coisas acontecem, com a relação tempo e espaço correndo solta na tela, num roteiro leve como uma pluma e, claro, algo de Pedro Almodovar. A incomodar apenas a utilização de um narrador externo (voz de Christopher Evan Welch) que comenta algumas passagens com o tipo de observações que o espectador já percebeu, numa redundância narrativa em que parece que Allen não acredita na inteligência da platéia. Bem, ao certo ele não acredita na inteligência do espectador médio ianque, e uma das melhores piadas do filme acontece quando entram em cena Javier Bardem e Penelope Cruz. Ao conversarem com Scarlett Johansson, Bardem sempre pede a Penelope: 'Speak in english!' Hilário. A abordagem da sexualidade é bem européia, incluindo transas a três sem culpa, ou pelo menos com tanta culpa quanto adultérios, já banais am filmes de Allen.

Woody Allen adapta-se perfeitamente às cores quentes espanholas, nem precisa dizer que o filme é lindo de ver. Não é um Allen essencial, é apenas mais um exercício de cinema desse senhor que transparece um enorme prazer em filmar e, velhinho safado, dessa vez ele botou pra quebrar na sexualidade, explorando saudavelmente a beleza e carisma do trio romântico central.

Cotação: Bom
Fernando Vasconcelos

quinta-feira, novembro 06, 2008

MOSTRA SP | Cinzas do Passado Redux


Cinzas do Passado Redux é uma nova versão com 7 minutos a menos do épico que Wong Kar Wai realizou em 1994, pouco antes da cair nas graças dos críticos e cinéfilos com o maravilhoso Amores Expressos, do mesmo ano. Estrelado por seus colaboradores freqüentes Tony Leung e Maggie Cheung (o casal de Amor à Flor da Pele), o filme centra sua história em Ouyang Feng (Leslie Cheung), que, abandonado pela mulher que ama, vaga pelo deserto procurando espadachins talentosos para realizar assassinatos contratados. Com ajuda de clientes, amigos e futuros inimigos, ele acaba tomando consciência de sua solidão.

Na verdade, esse resumo é bastante básico, já que há uma série de personagens e narrativas entrelaçadas. É complicado acompanhar todas, chegou a um ponto em que eu simplesmente desisti de seguir as histórias e resolvi me concentrar na experiência visual e emocional que o filme proporciona. É aí que o filme ganha. São tomadas belíssimas e estilizadas, como já se espera de um filme de Kar Wai, transparecendo o amor, a solidão e a memória de seus personagens. Embora a trilha sonora seja um tanto piegas (ou brega mesmo) e os textos explicativos soem intrometidos, Cinzas do Passado Redux é um belo épico de artes marciais no melhor estilo Herói e O Tigre e O Dragão. Mas nesse caso, a luta é interior.

Cotação: Bom
Filipe Marcena

terça-feira, novembro 04, 2008

MOSTRA SP | Set


O universo da direção de arte no cinema, na publicidade e na TV é o tema que a diretora mexicana Adriana Camacho aborda em seu documentário Set. E é basicamente tudo o que eu posso falar sobre o filme, já que ele nunca faz mais do que isso: mostrar superficialmente como funciona a direção de arte em cinema e publicidade. Não há nada que você já não saiba ou imagine como seja, é redundância atrás de redundância, nada de novo a mostrar.

Set é cheio de clipes de cenários sendo montados e desmontados em velocidade acelerada e ao som de uma sonolenta e pouco criativa trilha sonora, além das manjadas entrevistas de sempre (salvo a de Eugenio Caballero, diretor de arte de O Labirinto do Fauno, em participação interessante, mostrando álbuns com farto material de pré-produção do filme). Mas, no geral, qualquer making of de DVD consegue ser mais interessante do que é mostrado em Set. O filme parece interminável mesmo durando pouco mais que uma hora, e é incrível que a diretora não tenha percebido como é tedioso assistir 500 balões murchando no meio de um cenário de comercial destruído. Com um tema fascinante, Set é incrivelmente entediante.

Cotação: Fraco
Filipe Marcena